A falta de validação é uma das maiores causas de conflito e distanciamento emocional em qualquer relação. Entender isso é um passo central na sua jornada de regulação emocional.
🧉 Escrevi ouvindo “Nothing Burns Like the Cold”, de Snoh Aalegra.
Se você chegou até aqui, provavelmente alguém já te disse
“Você não sabe validar” ou
“Você não valida meus sentimentos”.
A má notícia: provavelmente é verdade; provavelmente, você não sabe validar as pessoas (ainda).
A boa notícia: você pode desenvolver e treinar essa habilidade.
Primeiro: O que é validação emocional?
Validação não é concordar.
Não é dar razão.
E definitivamente não é dizer: “Nossa, mas tem gente em situação pior.”
Validação é olhar para a experiência emocional de alguém e comunicar: O que você sente faz sentido.
É um ato de respeito.
É um antídoto para discussões desnecessárias.
É um pacificador das relações.
E você pode desenvolver essa habilidade, treinando 6 passos, avançando por 6 níveis de validação emocional.
👇Esta história é comum?
Paciente A. chega em casa depois de um dia péssimo: trânsito, chefe insuportável, café derramado na blusa.
Solta as sacolas e desabafa:
Que dia horrível. Tô exausta.
O namorado responde do sofá, sem tirar o olho do celular: “Nossa… mas todo dia é isso, né?”
Ponto. A última gota que faltava para A. transbordar: a invalidação no momento em que ela buscava por acolhimento.
A. vai para o quarto, chorando.
Quer começar a fazer diferente? Aqui estão os 6 níveis de validação.
1. Prestar atenção de verdade
Esse é o movimento básico, que muitas vezes é ignorado.
Dar atenção para o que a pessoa está falando é o primeiro passo para você validá-la.
Largue o celular.
Olhe nos olhos.
Faça silêncio (por fora);
Diminua o volume dos pensamentos (por dentro).
Esse passo pode ser desafiador, porque você pode estar cheio de pensamentos, como preocupações ou tentativas de lidar com suas próprias emoções.
Mas você está nesse texto para aprender algo novo, não é?
Então, por mais que "prestar atenção" seja algo básico, isso requer um treinamento.
Quando estiver conversando com alguém, observe a pessoa, escute as palavras, imagine a história que ela está contando pra você.
Enquanto você faz isso, podem vir muitos pensamentos e você pode "se perder" no que a pessoa está contando. Se isso acontecer, você pode dizer:
Desculpa, me distraí um pouco. Você pode repetir? Eu parei de acompanhar no momento em que você falava sobre [diga a última ocoisa que você lembra].
Se você perceber que está muito difícil de se concentrar, seja honesto:
Eu quero muito te dar atenção e validar o que você está sentindo, mas estou um pouco distraído agora. Nós podemos combinar um outro momento para conversarmos? Eu posso [sugira um horário]. Fica bom pra você também?
Dizer isso é mil vezes melhor do que cortar a pessoa, do que criticar, do que ficar pensando em outras coisas enquanto ouve.
Quando você conseguir dar atenção para a outra pessoa, avance para o próximo nível.
2. Verificar compreensão do que ouviu
Mostre que você ouviu.
Devolva o que entendeu, com suas palavras.
Tenha cuidado aqui com seu tom de voz e com a escolha de palavras. Afinal, nesse momento, a pessoa acaba de te contar algo emocionalmente significativo. Então, se você aplicar algum nível de avaliação ou julgamento (nas palavras ou no tom de voz), você pode dificultar a comunicação.
Alguns exemplos:
Então, seu chefe disse que você não faz nada direito e você ficou com raiva dele?
E foi nessa hora que ele te cortou na reunião que você quis gritar com ele?
Pelo que entendi, você está exausta por causa da pressão no trabalho. É isso?
Faça isso para checar, genuinamente, se você compreendeu o que a pessoa falou.
"Genuinamente" é importante aqui.
Você vai, com suas próprias palavras, verificar se aquilo que está passando na sua cabeça é o que a pessoa contou, sentiu, vivenciou.
Precisa ser genuíno, ou seja, verdadeiro, honesto, sem "outras intenções" senão verificar se você compreendeu o que ela disse.
🚫Não dê sua opinião ao fazer essa checagem. Apenas pergunte!
3. Ler nas entrelinhas
Você já avançou dois níveis:
✅Prestou atenção.
✅Verificou a compreensão
... Agora você vai tentar entender o que não foi dito.
As pessoas se comunicam com gestos, expressões, tom de voz e outros recursos.
Eu não estou dizendo para você ficar fixado em microexpressões faciais para saber se a pessoa está mentindo , porque eu valorizo o seu tempo e respeito tua inteligência
Estou dizendo para você prestar atenção o suficiente para identificar quando o que é dito está diferente daquilo que não é dito, ou seja
A pessoa diz que está tudo bem, mas está olhando para baixo, falando baixo, desviando o olhar.
A pessoa para de contar uma história, sem completar a narrativa, e desvia o olhar ou começa a chorar.
A pessoa está contando uma história, fecha os punhos, suspira profundamente ou levanta da cadeira e começa a andar de um lado para o outro.
O que essas expressões significam?
EU NÃO SEI
Você também não sabe!
E aqui está o ponto principal:
Quando você não sabe o que algo significa, mas identifica a presença daquilo, você pode perguntar (e não deve assumir que sabe o significado).
Portanto, ao perceber esse tipo de quebra, de mudança no fluxo da fala ou do comportamento, pergunte
Aconteceu alguma coisa?
Percebi que você [descreva o que viu]. Aconteceu alguma coisa?
Percebi que você [...]. Tem algo a mais que você gostaria de falar?
Você está me dizendo que tá tudo bem, mas to sentindo um clima meio diferente entre a gente. Tem algo te incomodando?
Cuidado:
🚫Não invente narrativa. Não coloque palavras na boca da pessoa. Pergunte!
4. Entender o contexto
Todos os comportamentos têm antecedentes.
Todo mundo tem uma história.
Portanto, a reação emocional de alguém não é algo isolado (ou do nada).
Essas reações têm como base:
Aspectos genéticos (ex. tendência à ativação rápida da amígdala cerebral).
Aspectos fisiológicos (ex. condição presente de sono, fome, dor).
Crenças da pessoa sobre si, sobre as outras pessoas, sobre como as coisas são ou como deveriam ser.
Pensamentos automáticos (ex. “vou perder tudo”, “essa pessoa está me agredindo”).
Estratégias aprendidas de regulação emocional (ex. gritar afasta o perigo; desistir diminui a ansiedade; culpar os outros traz alívio; chorar alivia ou aumenta as chances de ser cuidado pelos outros) - ou a falta de estratégias.
Habilidades interpessoais - ou a falta de certas habilidades.
Por isso, traga a história de vida da pessoa pra conversa.
Mostre que você lembra do que ela já te contou antes.
Faz sentido você se sentir assim… depois de tudo que já passou com esse chefe.
Considerando o quanto isso te afeta há meses… é totalmente compreensível que você esteja tão irritada hoje.
Maaaas, cuidado!
🚫Não faz o psicanalista de boteco ou o psicólogo do feriado.
Você não sabe mais da história da pessoa do que ela mesma. Não fique fazendo ligações entre as coisas, principalmente se elas não tiverem ligação nenhuma.
Se você quiser criar justificativas mentais como “Ela fez isso porque é sagitariana” ou “porque teve uma infância difícil”, tá tudo bem, mas não fale isso.
Faça relações mais simples e use frases curtas. Não momento para seu monólogo, entende?
Então, “faz sentido você se sentir assim depois de tudo que tem passado recentemente” já é suficiente.
Confia.
5. Normalizar a reação
Aqui você diz que a emoção da pessoa é uma resposta humana e lógica.
Lembre que a pessoa veio até você buscando algo próximo de:
conforto
acolhimento
um lugar seguro para ser ela mesma
um lugar seguro para ela contar o que pensa, como se sente e como age, sem precisar lidar com a sua urgência em consertar a situação (ou consertá-la).
No nível 5 de validação, você pode utilizar estratégias como
Qualquer um no seu lugar também ficaria assim.
Claro! Depois de um dia desses, quem não estaria estressado?
Sim! Do jeito que as pessoas dirigem nessa cidade, não tem como não se estressar no trânsito.
Só que aqui, você precisa aplicar uma regra importante:
Valide o que é validável.
E o que, afinal, é validável?
A relação entre o que a pessoa pensou, como se sentiu e como agiu.
A relação entre essas coisas.
Vamos pensar no seguinte cenário.
A pessoa te conta que quebrou a mesa do escritório com um chute após ser desrespeitada pelo chefe.
Quebrar a mesa do escritório é uma reação grave, porque tem um dano ao patrimônio, porque provavelmente destoa do padrão de funcionamento da pessoa, porque assusta/intimida as outras pessoas, porque pode ser considerada uma violência (ou uma ameaça de violência) ao chefe.
Mas, mesmo assim, você pode validar o que essa pessoa sentiu e a relação entre o que ela sentiu e como se comportou.
Depois de tudo que esse cara tem falado pra você e ainda com isso que aconteceu na reunião, faz todo sentido você ter reagido assim. Qualquer pessoa poderia chegar nesse nível de raiva.
Você valida a humanidade do outro, mas não precisa concordar com o comportamento prejudicial. Afinal, repito, não é o momento de falar sobre o que você pensa do que o outro fez, nem sobre como ele pode consertar o que fez.
6. Mostrar igualdade
Esse nível de validação requer que você seja gente de verdade, sem tratar o outro como menos competente do que você ou mais frágil do que você.
Utilize recursos como
Cara, se fosse comigo, eu também ficaria puto.
Nossa… me deu vontade de te dar um abraço agora.
🚫O que NÃO fazer: Roubar o protagonismo.
Exemplo do que não fazer.
A pessoa desabafa… e você já começa:
“Ah, falando nisso, comigo foi pior. Outro dia...”
Um alerta importante 🚩
Você não precisa usar os 6 níveis em toda conversa.
Torne-se muito bom nos níveis 1 e 2.
Torne-se bom no nível 3, sem bobagens como "microexpressões faciais".
Depois, aplique os níveis 4, 5 e 6.
Seu desafio prático:
Escolha alguém com quem você teve uma conversa difícil nos últimos dias.
Da próxima vez que ela desabafar, tente aplicar pelo menos um nível a mais do que o habitual.
Se quiser… me responde este e-mail contando:
Validei no nível [1 a 6] e o resultado foi ____.
Vou adorar saber.
Valter Machado
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